Stélio Inácio Livro Literurbano

Literurbano

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Stélio Inácio, escrito entre 2008 e 2018

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Índice

Contents

Um Convite a Dança. 3

O Rei dos Palavrões. 5

As Confissões de um Jovem.. 8

O MC e o Rapper 14

A Incoveniência de Mijar na Rua. 16

Piada de Joãozinho. 17

As Cuecas dos Cobradores. 21

Visita à Maria do Bairro. 23

Advogando o Banimento dos Urinóis. 26

O Embaraço de Comprar Preservativos. 29

A Era dos Cavalheiros. 33

A Ausência da Palavra Foder no Dicionário. 36

O Coiso. 39

Punir uma Criança nos Tempos de Hoje. 41

O Tipo Desgraçado. 44

Lições de Casa. 46

Um Convite a Dança

…Tava numa Disco:

Eu vi uma gaja boa! Linda, a vir na minha direcção. Parei só p’ra mirar a gaja. A gaja vinha como uma model! Aproximei-me dela e disse-lhe:

— Queres dançar?

A pita inclinou a head, pôs as mãos na cintura e começou a olhar p’ra mim.

Softamente, com aqueles lábios nices dela a uns 20 centimetros dos meus. O cabelo dela, como ela estava inclinada para o lado tás a ver, deslizava nos ombros da pita.

Nos primeiros dez segundos eu tava a espera da gaja dizer um “sim” meu irmão. Eu estava tão perto que estava a apanhar o hálito da gaja, mas ela só estava ali linda para o caraças a mirar p’ra mim! Softamente, a pita não sorria, não estava zangada, só me mirava com aquela beleza louca dela!

Nos dez segundos seguintes, eu desafiei a gaja meu irmão: olhei-a nos olhos! Nenhum de nós desviava o olhar. Aquilo era olhos nos olhos. Porras, eu ainda tinha esperanças dela aceitar meu irmão! Eu tava numa de que desse way eu poderia fazer a pita aceitar, tava numa de que ela queria se fazer de difícil.

Mas tu não tás a apanhar! aquela pita só mirava p’ra mim! Uns olhos lindos meu brada! Castanho dourado. A face (feice) da gaja meu irmão, parece duma actriz! Dessas Jéssicas e Jennifers que andam por esses movies.

Nos próximos 20 segundos eu comecei a desviar os olhos, tava muito envergonhado. Heh! Não sabia onde pôr as mãos, estava sem style, não sabia onde me pôr, tás a apanhar, eu não sabia onde me pôr, é essa cena meu irmão, o mundo ficou pequeno p’ra mim, eu tava sem moral, e aquela pita não rachava, não sorria, nada, só olhava-me nos olhos. E eu envergonhado estava a esquivar os olhos dela.

É pá, olhei para gaja uma última vez com uma raiva daquelas que te fazem tirar lágrimas. Dei as costas a pita e bazei. Não mirei p’ra trás.

10/06/2008

O Rei dos Palavrões

Apanhamos o último autocarro. Eu, todos chamam-me Pedrito, as minhas tias e a minha mãe. Se tivessemos saído mais cedo teríamos apanhado boleia, mas todas elas quiseram demorar.

Acontece que nesse carro estavam muitos bêbados, marginais, prostitutas, toda sorte de lixo social e a linguagem ali era a mais porca possível.

Cada insulto era uma facada no meu coração. Sentia pelas minhas tias e pela minha mãe. A maioria daqueles insultos ofendiam a dignidade feminina e eu não podia mandar calar aquela escumalha senão levava uma boa porrada.

E lá estavam eles a insultar! Aquilo era intolerável, um verdadeiro martírio. Eu tinha de fazer algo.

Um deles gritou para uma das mulheres ali: Cala-te sua Pu…

— …trefacção. A putrefacção daquela feijoada era notável. — Disse eu disfarçando o insulto.

Um outro: Esse gajo é um filho da…

— Pú…cara, vi o filho da tia Púcara, está muito grande.

Um outro: Dou-te 50 paus se abaixares e me fizeres um bro…

— …churas muito bonitas, ementa maravilhosa. Que festa!

A pessoa respondeu: vai a mer…

— …cedes descapotável. Os noivos estão bem de vida.

E alguém: esses cara…

— …pau apetitoso.

E claro: eu vou te fu…

— …mo. A festa tinha muito fumo, por causa do… curto-circuíto.

Esta não faltou: Vai lamber o meu cu…

— …zido a Portuguesa. Não sabia que se fazia tão bem na família.

Eu ía ficando cada vez melhor. Dissimulava os insultos com uma eficiência assombrosa. Eu antecipava, já sabia quais seriam os próximos.

Um deles avançou: Neste mundo quem não ca…

— …gado no jardim. Li… xivia, pratos limpos. Rata… touille, excelente desenhos animados: as crianças estavam a assistir. Tusa… na, o tio Tusana estava muito bêbado. Mine… rete, muito bonito da mesquita ao lado. Pinças estavam tesas-ouradas, pareciam tesouras. Eu comi, Muito gostosa, galinha gostosa.

De repente um dos malandros pôs-se a cantar a música do Ziqo, assim do nada. Eu arranjei uma solução prática, quando ele dizia a parte comprometedora, que ele cantava na versão original que o próprio Ziqo, autor da música não ousou cantar, eu usava um composto do verbo poder.

— Podiamos estar na rua, sem poder estar num carro, pode isso! No mato a andarmos sem norte enquanto os notórios estão na sua casa.

De repente percebi que eu não era diferente de nenhum daqueles marginais. Daquela gente a dizer palavrões em frente das minhas tias e da minha mãe. São as mesmas palavras que eu uso. Se eu estivesse ali sozinho, acham que eu me teria dado ao trabalho de dissimular aqueles insultos? podiam estar velhas, freiras, eu não me importaria. Eu sou aquela porcaria. Odiei-me, calei-me. Felizmente eles desceram nesse momento. E eu… E eu…

30/06/2008

As Confissões de um Jovem

Sabem uma cena meus bradas, eu estive a pensar…

— Júlio, tens certeza que não foi por engano!?

— Tens a certeza que não foi na verdade um pensamento louco que esteve a Juliulizar-te!?

— Tens certeza que não é o tipo de pensamento que antecede uma tusa!?

É essa cena mesmo que eu estava a matutar, a malta não leva nada a sério, tudo é brincadeira, spides. Vocês lixaram a minha vida.

— Finalmente descobriste que a vida é uma merda!

— Caga la para esse gajo, só tá ta concentrar.

Eu tou a falar sério, quando eu te conheci Fernando, eu era um gajo straight, estavamos na 3ª Classe, comecei a gazetar a school para ir jogar bilas.

— Foi o primeiro emprego de Fernando esse, o gajo ajudava os kotas dele com a mola que fazia a jogar berlindes. Eu depois que perdi a terceira vez contigo Fernando, parei de te desafiar.

Quando eu conheci-te Francisco, comecei a cuxar taco dos meus quotas para bazar contigo nos fins de semana playar game na Feira.

— Nós éramos tão bons naquela cena que os molwenes daquele time que andavam a pedir esmola nos semáforos, entregavam-nos parte do taco que eles colectavam, para nós jogarmos enquanto eles assistiam-nos.

Brincavamos com molwenes. Eu desde aquele time até hoje passei a não levar school a sério. Cabulávamos com livros, gazetávamos muito, e roubávamos cadernos de gajos marões.

— Não te esqueças de acrescentar que desvirginávamos pitas.

E fui crescendo sempre com essa forma de ver as coisas, a procura do caminho mais fácil e menos penoso para tudo. Na secundária, cabulava ainda mais.

— Eu lembro de uma vez que cabulei na parte frontal da mesa do stor. Eu era o primeiro da fila. Foi na nona, aquele ano eu rendi comigo meu brada! Eu passei por cábula! Ao estudar para o exame da décima eu marrei pela primeira vez cenas da nona.

Quando nos avisavam que íamos fazer um teste, em vez de estudar, começavamos a planear a nossa cábula.

A malta ficava a spidar os nossos colegas. Foi nesse time que descobrimos a cerveja

— Companheira inseparável.

Djecavamos parties, perdiamos noites, faziamos negócios sujos para arranjar grifts

— Meu irmão, eu já cheguei a “bisinar” no estrela por causa de uma Levis.

Começamos a entrar na onda das Discos. Acompanhamos o ritmo de frequência a Discoteca de gajos que tem bons sálarios e de filhinhos de Pais ricos. Rodamos uma média de 3 discos num só dia, conduzimos embriagados.

— Nenhum de vocês vai bater o meu record, eu já conduzi podre de bebida, quase de olhos fechados.

— Vai te lixar você, eu já conduzi desmaiado. Só acordava nas curvas para virar o volante. Conduzi inconsciente, você tá numa de que pode bater isso! E depois cheguei em casa e totalmente inconsciente, trabalhei uma pita.

— Vai te lixar, é impossível isso! Tomá-la esse dedo!

— Estou ta falar Fernando, eu trabalhei uma gaja assim mesmo. Dia seguinte ela me contou como foi.

Estás a ver, que espécie de cidadãos fica feliz com essas cenas. Estamos a fazer Faculdade, a malta só fica a espera dos fins de semana, e depois é só procurar saber qual é o way?

— Falando nisso, qual é o way?

— Há de haver uma cena nice no Tara’s, depois vamos fazer o nosso périplo.

— Não, estivemos no Tara’s semana passada. Vamos la aventurar para Marracuene.

Estão a ver. A malta só mara por marar, não por amor, mal sabemos até agora porquê estamos a marar, que estilo de vida é o nosso? Fernando, define lá sinóide. Vimos isso no princípio do ano.

— Eu sei essa cena, sinoide é… como é Francisco?

— Definir não sei, mas posso desenhar… Está parte fica assim…

— Está ao contrário isso.

— Vai te lixar!

Estão a ver. Que engeiros seremos? Que filhos criaremos?

— Meus bradas, sou capaz de ter engravidado uma gaja.

— Sério!?

— Não tinha preserva meu irmão!

— Quem?

— Juninha.

— Hiii! Meu irmão, essa eu não te censuro, eu também arriscava ali.

Tu podes ter apanhado sida meu irmão! Não podes ter relações sexuais sem preservativos, vocês não percebem isso!?

— Vai te lixar você. Se tivesses tido a mesma oportunidade batias a gaja!

É incrível. Que espécie de gente somos nós.

— Vais assumir?

— Tá maluco! Quem garante que eu sou o pai. É uma serigaita aquela gaja.

Vês como tratamos as mulheres!? E tu que ficaste com outras 5 gajas nesse mesmo dia o que és?

— Um garanhão!!!

— Urrra!!!!

Sabem, nós temos de mudar! Não podemos continuar assim! Não é humano!

— Ei! Júlio, não há barril este fim de semana?

Há, em casa do namorado da minha cunhada. É isso outra coisa que nós somos, uns caça barris. Todo fim-de-semana em busca de Barris.

— Olha só quem está a dobrar a esquina com uma mini-saia minúscula.

— É a Tina Júlio.

Hiii! Vou papar a gaja!

— Hei Júlio não vás, estavas a ir bem, o mundo, a vida, os jovens, temos de mudar…

— E já agora essa nossa forma de vida sempre atrás de mulheres, não consiguimos ver um rabo de saias, somos efusivos…

— Diga antes ejaculativos, não levamos a vida a sério… já bazou o gajo. Acho que é hoje que ele saca a pita.

— Fernando, não batas cabeça; Júlio é um gajo que grama maningue de concentrar. Eu topei logo, esse aqui só quer nos concentrar, Ahhhh! Júlio não me engana a mim!

— Na cena do Barril, quando o gajo estiver bem passado, vamos lhe dar um sermão, Numa de que o gajo estragou nossas vidas e blá, blá, blá do caraças.

09/07/2008

O MC e o Rapper

Um menino com 10 aninhos, viu na rua um dos nossos grandes rappers e foi a correr ao encontro dele pedir um Freestyle.

O nosso MC recusou por várias vezes mais como o menino insistiu tanto e como ele tinha um novo material, lá fez o favor. E tão animado que nem estava a olhar para a reacção do miúdo, ele começou:

— Yo, Yo, a pita que gramas mais do que gramas a tua dama, me grama. Eu não lhe gramo, não lhe amo, sou damo durante o mamo na cama. Mão na mama, da tua mamã, mente sã, sa-ri-can-do, dando, mandando, chupando, afundando, oh, ela ta chorando. Meu baz tem asma, dás ma, paz man? Cá é trás ou traz, tris trás, Te vens ou te vais, Vaz de Camões, Limões, na Lafões, Meus dons, são bons, qui bons, bom bons, distons nestes tons, anões e matulões sem tostões como tu. Dei-te um cabaz de porrada, eu sou o Ás. O teu pai é um bom jogador? Não. A única vez que ele meteu tu nasceste. Ba-lé-lé Ba-lé-lé Urra, o MC falou e deu-te a cura. Não tem comida em casa, leva meu sapato, vai alimentar tua zona por dois meses. Parto-te a cara, explodo-te com uma granada, recolho as cinzas e preparo um charro, Shifttt tou pedrado contigo ou te matei a pedrada, não me lembro. Seu burro, te surro com meu murro, no murro a dançar kuduro. Tua dama te minha, porque ela é minha. Coitadinha, fica fora da minha sombrinha, sozinha. Mas é binha feito, ela tinha tinha, sublinha que foi minha vizinha. Passou da linha. Manda um olá para tua mãe e pisca-lhe o olhinho, senão bato teu pai com cinto e quapo tua mãe no rabinho…

O aluno saiu a correr.

— Espera aí, puto, não tou a falar de ti. Não foge, esta cena é arte, não tá direcionada. Vá la puto não faz essa cena. Please nada de bifes no Fred, mantém o bico calado senão… Sorry, sorry, chega de ameaças.

12/06/2015

A Incoveniência de Mijar na Rua

Numa tarde, Pedro, jovem dos seus 25, estava muito longe de casa e com uma vontade terrível de dar uma mijada. Depois de olhar por cima dos seus ombros e para todos os lados daquela rua totalmente deserta, encostou-se a parte traseira de um mini-autocarro sem rodas mas ainda em boas condições e começou a mija. Nesse exacto momento o dono do automóvel e da casa ao lado já nos seus 60, abria a porta do primeiro andar da sua vivenda e viu Pedro de mangueira em riste, pernas bem afastadas, corpo esticado a aliviar-se no seu mini-autocarro.

— Mas que brincadeira é esta!? — Interpelou-lhe o madala.

“Estou lixado”, pensou Pedro, como se pudesse dar-se ao luxo de pensar. Ele estava com uma daquelas mijas torrenciais que quando cortamos dói, a verdade é que ele estava no limite da contenção e tinha adiado aquele momento o mais possível. Portanto ele cometeu o grandessíssimo (e talvez inevitável) erro de não fugir. Ficou ali a terminar a sua apertada mas idiota mija enquanto o dono da casa descia as escadas e caminhava vagarosamente até o portão. Quando alcançou-o, Pedro ingenuamente apressou-se a abordá-lo ainda mijando com o pedrito na mão e tendo que virar a cabeça:

— Peço-lhe imensas desculpas Senhor.

O facto de que ele dizia estas palavras ainda cometendo o crime enfureceu tremendamente o dono da casa.

— Se eu lhe mijasse na cara o Senhor Desculpava-me? Mas que brincadeira é esta aqui no meu carro pá? — Gritou ele.

— O que se passa Pai. — Perguntaram de dentro de casa os filhos do quota ouvindo os berros deste.

Os três foram ao encontro do Pai. O nosso Pedro estava agora oficialmente lixado.

Assim que ele acabou, deram-lhe um balde com água, um pacote de detergente, uma escova e um pano seco e mandaram-lhe lavar o carro. Ele lá fez o trabalho diante dos olhares controladores de toda a família do Senhor e dos olhares curiosos e das fofocas de umas três ou quatro famílias vizinhas.

Quando Pedro acabou de lavar e lhe deixaram ir embora, já a dobrar a esquina virou-se e disse olhando para todos:

“Mas mijei”.

15/05/2015

Piada de Joãozinho

Joãozinho, no auge dos seus 8 anitos, foi deixado a assistir crime sobre investigação (CSI) toda a noite na TVM enquanto os pais dormiam. De manhã acordou e sentia-se um grande detective, vestiu um paletó que tinha servido para o casamento da sua tia e acordou decidido a praticar a investigação criminal.


A mãe estava na cozinha a preparar o almoço e o pai estava na sala a assistir um jogo de futebol. Perfeito. Primeiro foi ter com a mãe:
— Eu quero saber como vim parar à este mundo, e eu sei, mamãe, que tu estás envolvida.
A mãe achou aquilo uma gracinha e disse que foram as cegonhas que tinham lhe trazido. Joãozinho mandou-lhe aguardar e foi ter com o pai:
— Pai, como eu vim parar à este mundo?
— Pergunta a tua mãe — Respondeu logo o pai que não estava para chatices.
— A mãe diz que tu és culpado e que vocês os dois me fizeram. — Mentiu o miúdo.
— Vai chatear outro que eu estou a assistir o jogo.
Joãozinho não se deu por satisfeito com a resposta do pai e foi ter com a irmã mais velha de 16 anos, chegou no quarto dela com cara de poucos amigos, sentou em cima da cabeceira cruzou os pés e demandou:

— Diz-me como eu fui feito senão eu conto a mamãe que eu te vi a beijar o teu colega da escola.
— Não contas nada. — Fez a irmã.
— Ok, tchau, lá vou eu contar…
— Está bem, o problema é teu mesmo, quando um homem e uma mulher gostam muito um do outro, eles vão para o quarto, em cima da cama, ou para trás das arvores e…
— Qualquer homem e qualquer mulher? — Interrompeu Joãozinho.
— Lógico é. — Respondeu a irmã

Joãozinho estava intrigado. Foi ter com o vizinho.
— Senhor Paulo, eu quero saber qual foi o seu envolvimento no meu nascimento, e não minta para mim porque eu vi-o a entrar no quarto com a minha mãe.
— Mas eu nunca…
— Ok, vou contar o meu pai.
— Espera, espera, tens razão. Eu e tua mãe fizemos, mas foi a muito tempo, quando teu pai saiu de viagem.

— Quando foi isso? — Interrogou o nosso detective.
— Foi a  uns 8 ou 9 anos. A tua mãe é que me convenceu, por favor acredita.
— Então confessas que és culpado, que tu e a minha mãe me fizeram!? — Perguntou Implacável o Joãozinho.
— Sim, confesso tudo. Sou culpado.

Joãzinho deu-se por satisfeito com a declaração do Sr. Paulo e foi confrontar a mãe:
— Eu já sei de tudo — Começou ele. — O Senhor Paulo confessou.

A mãe estava desesperada.
— Conta-me como foi que eu nasci senão digo ao papai.
— Está bem, foi quando o teu pai viajou, eu e o Sr. Paulo dormimos juntos.
— Na cama?
— Sim, na cama.
— Quanto tempo levei a ser feito?
— 2 minutos.

Joãozinho feliz da vida por ter apanhado os culpados e por saber como tinha sido feito, foi a correr abraçar o pai e disse com um brilho nos olhos:
— Pai, desculpa ter desconfiado de ti, afinal és inocente.

10/06/2015

As Cuecas dos Cobradores

As cuecas dos cobradores de chapa já fazem parte da paisagem da nossa bela cidade, do nosso dia-a-dia e mesmo à revelia foram por nós aceites como parte da experiência de andar de chapa.

À roupa interior do cobrador chamaremos aqui cueca por conveniência, mas a verdade, segundo temos constatado várias vezes, essa roupa interior inclui calções de futebol, calções de basquetebol, calções de jeans (sim como cuecas), fatos de treino (em casos extraordinários), boxers (sempre com cores gastas) e cuecas. Há que ter em conta que ao longo da presente dissertação que ao usarmos o termo genérico cuecas poderemos estar a referir a qualquer um destes elementos.

A principal causa do carnaval das cuecas dos cobradores é a insistência destes em não usarem cintos. Mas analisando os aspectos culturais e até psicológicos podemos acrescentar o modelo patriacal dos próprios chapas. O cobrador dentro do chapa é o Chefe de família, ele dá-se o direito de praguejar, insultar, coçar as suas partes baixas ao lado de qualquer um, dar-nos nomes (mana moça, boss, mãezinha), e porque não, andar com as calças caídas e com as cuecas à mostra.

A falta de cinto, o facto de eles ficarem pendurados ou de pé nos chapas aliada a força de gravidade, expõe as suas cuecas. É fisíca básica.

O grosso da população fica portanto sujeita a estética do cobrador sobre o que constitui uma roupa interior bonita. Pensaríamos que já que a roupa deles normalmente fica amostra eles teriam a generosidade de vestirem cuecas mais bonitas. No entanto muitas vezes ficamos sujeitos a amostra de, como se diz na linguagem popular, cuecas tsundzadas.

A questão das cuecas dos cobradores tem todas as nuances e complexidades de um fenómeno sociológico, pois que os cobradores de certa forma mimicam-se criando uma moda de vestuário (roupa interior incluída) que os caracteriza. A não ser verdade haveria uma espécie de conferência cuja agenda provavelmente seria: encurtamento de rotas: novas ideias eficazes, como transformar o seu chapa numa discoteca, tempo ideal para ficar na paragem a fazer os passageiros atrasar, como obrigar os passageiros a fazerem ligações levando só as pessoas que estão na terminal, como pendurar pessoas para dobrar a lotação dos chapas em cada viagem, e por fim, cueca da semana: calvin kleins dos anos 90 “dzudzadas” no Mercado Xipamanine.

27/05/2015

Visita à Maria do Bairro

Jacinto no seu Vitz, saiu da sua casa em Magoanine, com apenas 500,00 Mt, para ir visitar a pitinha Maria do bairro na Malhangalene. Entrou da praça da OMM vindo de Xiquelene, circundou a praça, desceu pela direita e virou a esquerda ao lado da antiga primavera, estava mesmo a alguns metros da casa da Maria do Bairro, quando foi parado por um polícia.

— O que se passa chefe? — Indagou Jacinto.

— Sentido único. — Respondeu o polícia de trânsito calmamente.

— Mas como se aqui sempre foi duplo sentido, eu não sabia, quando mudaram!!? — Protestou Jacinto que estava agitado com toda aquela situação.

O polícia retrucou:

— Amigo, não me interessa se você sabia, você na verdade não tem de saber coisa nenhuma quando está a conduzir. Sua única tarefa como motorista é ler os sinais. Tem um sinal ali que proíbe a entrada nesta via, o senhor desobedeceu o sinal, esse é que é o problema. Se ali não tivesse sinal o senhor teria razão.

— Está bem chefe. — Rendeu-se o nosso amigo que viu que não valia a pena discutir.

Seguiu-se um silêncio.

Um silêncio longo e pesado:

— O senhor não viu o sinal. — Repetiu o polícia num tom que dava a entender a Jacinto que ele podia avançar com o suborno.

Jacinto tirou demoradamente e penosamente, a única nota que trazia do bolso e pegou-a na mão. Que desgraça, ele não tinha dinheiro trocado, só tinha uma nota de 500. O polícia viu a nota e ficou todo excitado, aquelas situações de falta de troco eram muito rentáveis, uma vez ele já tinha feito mil meticais por falta de troco do idiota que cometeu uma infração.

Jacinto triste da vida apenas disse:

— Está aqui o seu dinheiro que estava a guardar para si.

O polícia levou a nota às pressas e foi-se embora.

Viagem perdida, Jacinto sabia perfeitamente como funcionam as coisas. Sem dinheiro não poderia nem colocar os olhos na Maria do Bairro. Mas mesmo assim ligou e resolveu tentar:

— Alo Maria, estou aqui na esquina, quase na tua casa, aqui mesmo. Um polícia deixou-me sem mola. Juro que eu vinha com a mola, tou a pedir paixão…

— Tchau. — Disse Maria secamente e com voz firme. A bela moça não tolerava homem que não tivesse dinheiro na mão, estava traumatizada e sentia nojo. Desligou e continuou a preparar-se como se o programa dela não tivesse sido alterado e o Jacinto ainda estivesse a caminho. 2 minutos depois o telefone dela voltou a tocar.

— Como é baby, aqui é o teu cinzentinho, tchuna-te lá para mim, tenho 500, acabei de faturar com um panhonho.

10/06/2015

Advogando o Banimento dos Urinóis

Se alguém tiver uma oportunidade de olhar para o teu mangalho, não duvides, essa pessoa vai olhar. A curiosidade das pessoas é completamente descontrolada. Se as pessoas tivessem a oportunidade de comparar todos mangalhos do mundo, elas comparariam. Passariam o dia a abrir os zipes de cada um dos homens que estivesse no caminho e comparariam os mangalhos deles. Como num regime totalitarista, arbitrariamente um grupo de homens seria alinhado contra a parede e receberiam a ordem de baixar as calças.

A maior injustiça do mundo é ser medido pelo tamanho do teu mangalho, eu acredito, não, tenho certeza que nas tribos em que os homens andam com o mangalho às moscas, eles são categorizados por ordem de tamanho, e só reina quem faz parte do grupo de mangalho grande.

Portanto esconder o mangalho é o instinto mais natural que existe, e esconder de todos; E olhem que isto não tem haver com o tamanho do mangalho, até um homem com um enorme membro tem vergonha de ser medido pelo tamanho do seu mangalho, antes de ser enorme, ele é homem, tem sentimentos. Além do mais, é embaraçoso conversar sobre isso:

– Porquê tem tantas rugas? Porquê ele é torto? Olha só para essa veia horrenda, porquê é assim? Porquê ele é tão grande ou tão pequeno? Porquê é tão feio?
Essas perguntas são extremamente embaraçosas porque não houve nenhuma negociação com Deus na hora em que nos foram atribuídos os mangalhos. Ninguém sentou com o Senhor e disse: olha, pode ser pequeno mas tem que ser grosso, ou por nada deste modo me dês um que seja torto.

A nossa cara é a nossa identidade, todos nós sentimos que somos donos da cara que temos e ademais estamos demasiado habituados à ela, mas ninguém se sente totalmente dono de um mangalho, na verdade é como se alguém tivesse nos dado para guardá-lo.

Um homem pode gostar que uma mulher faça um monte de coisas com o mangalho dele, mas o que ele realmente não suporta é que ela se ponha simplesmente a olhar e a estudar o horrível membro. E é justamente por ele ser horrível que ele não foi feito para ser contemplado.

A xana é também embaraçosa sim, mas de um outro jeito e além do mais a mulher tem muitas oportunidades de escondê-la. As casas de banho femininas, mesmo quando são públicas, são privadas. Agora nós homens temos que suportar olhares furtivos de outros homens ao nosso precioso mangalho nos urinóis. Não, eu não acho que isso seja tolerável. Urinóis deviam ter divisórias. Eu quando uso uma casa de banho pública muitas vezes vou a pia para urinar e tranco-me em vez de usar o urinol.

Urinar em público é o meu segundo maior receio. O primeiro é urinar num urinol bem ao lado de um outro homem que esteja a tentar medir-me pelo tamanho do meu mangalhão.

26/05/2015


O Embaraço de Comprar Preservativos

Desde a primeira vez na minha adolescência, até a alguns dias atrás quando tive que reabastecer-me, comprar preservativos tem sido uma das coisas mais embaraçosas que tenho feito na minha vida.

Só há uma forma ideal de comprar preservativos: numa máquina automática, situada numa rua deserta, onde quando vais comprar és sempre o único no local.

Todo o vendedor de preservativo, farmacêutico, médico, até barrista num bar de má fama, vai-te lançar olhares julgadores ao comprares preservativos nele. Sinceramente eu nem sei porque certas pessoas dão se ao trabalho de vender preservativos, se pela cara deles condenam-te de certa forma ao comprá-los. Estas pessoas literalmente fazem-te sentir envergonhado por seres sexualmente activo. E se não forem os vendedores a julgarem-te, então serão outros clientes ou as pessoas que estão de passagem no local onde estás a reabastecer-te.

Lembro de uma vez que fui reabastecer-me à farmácia. Entro e como único cliente vejo um homem já as portas da velhice que veio comprar a sua dose diária de 10 diferentes medicamentos. Eu espero ele acabar de ser atendido enquanto aprecio panfletos de novos medicamentos. Dois minutos depois o farmacêutico manda o assistente ir buscar os medicamentos do senhor e para o meu espanto oiço-o gritar, com o velho ali ao lado dele:

– Posso ajudar?

Eu perplexo finjo que não ouvi.

– Posso ajudar?

Desta vez todos viram-se para mim, isto é, o farmacêutico, o velho, uma senhora com duas crianças que acabara de entrar e a uma moça do meu bairro por quem eu estou interessado a anos e que na minha distracção também tinha entrado na farmácia.

Tudo que eu queria fazer era morrer. Cair morto, queria que um relâmpago caísse sobre mim naquele exacto momento.

O mais depressa que pude aproximei-me do balcão, para onde naturalmente convergiram todas as pessoas que acabavam de entrar. O mais baixinho que eu pude, de forma que o farmacêutico lesse os meus lábios e executasse o meu pedido, eu disse:

– Quero 3 pacotes de preservativo.

– Como? – Gritou o farmacêutico que não percebeu patavina.

Eu aproximei-me do balcão e olhei para o senhor ao meu lado de forma que ele percebesse que eu queria um pouco de privacidade, então repeti o meu pedido quase na orelha do farmacêutico. Ninguém me ouviu e eu estava todo feliz da vida porque a lindona da minha vizinha não percebeu o que me trazia ali. Mas por razões que eu totalmente desconheço, o farmacêutico gritou com o fôlego de um cantor de ópera para o seu assistente:

– Traz 3 pacotes de preservativos.

Eu simplesmente peguei a cabeça e o assistente de dentro do armazém da farmácia respondeu com outra pergunta:

– Que marca?

Eu fingi que não ouvi e que aquele assunto nada tinha haver comigo, quando o farmacêutico repetiu a pergunta dirigindo-se à mim, a alto e bom som de forma que até as pessoas que estivessem lá fora poderiam ouvir. Disse-lhe a marca e fiquei na expectativa de que tudo aquilo fosse acabar. O farmacêutico gritou o nome da marca para o assistente e este, que estava determinado em ser útil, respondeu com ainda outra pergunta:

– Que sabor?

Neste momento não pude deixar de notar que todas as restantes pessoas ali presentes estavam com os olhos postos em mim.

– Qualquer. – Repondi eu gritando e já nem preocupado em esconder nada.

Via-se nos olhos da minha vizinha que ela nunca iria dar para mim, via-se nos olhos do senhor um intenso julgamento do meu carácter, via-se nos olhos da senhora desconfiança, e as duas crianças que lhe acompanhavam deixaram escapar alguns risinhos. Trouxeram-me os preservativos, e o inacreditável assistente todo orgulhoso de quão prestativo ele tinha sido, ainda teve a coragem de dizer-me que tinha levado sabor a banana, como se ele me tivesse feito um grande favor.

Paguei, levai os malditos preservativos e fui para casa tão chateado que nesse dia nem sequer comi.

23/06/2015

A Era dos Cavalheiros

A mulher trocou o cavalheirismo pelas suas ambições de poder, igualdade de direitos e emancipação. Contudo, há poucos séculos atrás todos homens de boas famílias eram ou aspiravam a ser cavalheiros, e eis o que era suposto um homem, um cavalheiro fazer:

Um cavalheiro era absolutamente proibido de deixar que uma mulher levasse uma cadeira para ela sentar, tocasse uma campainha, apanhasse um lenço que ela tivesse deixado cair, ou fizesse qualquer outra coisa que o cavalheiro poderia fazer por ela, enquanto ele estivesse presente.

Um cavalheiro nunca deveria deixar que uma dama com quem ele estivesse a caminhar carregasse um cesto ou trouxa, a não ser que as suas duas mãos estivessem já ocupadas ao serviço dela.

Se uma mulher entrasse numa sala todos homens levantavam-se e ficavam de pé até que ela sentasse ou passasse para outro compartimento, mesmo que ela fosse uma completa estranha.

Se uma dama vai para o mesmo lado que um cavalheiro e houvesse uma porta encostada de fronte, o cavalheiro devia passar na frente dela dizendo “permita-me”, abrir a porta e segurá-la aberta enquanto ela passa, mesmo que ele nunca a tivesse visto antes.

Se o cavalheiro estivesse ao pé da escada a subir e uma senhora viesse nos últimos degraus a descer, o cavalheiro devia retroceder, ficar de lado e esperar que ela descesse, fazer-lhe uma vénia e só então subir, isto caso nenhuma outra dama viesse a descer.

Em caso de chuva repentina, um cavalheiro poderia oferecer a guarda-chuva dele à uma dama que não tivesse levado a dela. Se ela aceitasse, e pedisse o endereço do cavalheiro para devolver a guarda-chuva, o cavalheiro deveria o fornecer; se ela hesitasse, e não quisesse privar o cavalheiro da guarda-chuva, este devia oferecer-se para acompanhá-la ao destino dela. Ele devia ser respeitoso, e quando ele a deixasse ouviria o agradecimento e deveria garantir à ela que foi um prazer ter estado ao serviço dela, fazer uma vénia e partir.

Era impensável para um cavalheiro levantar à mão à uma dama, mesmo que ela tivesse uma arma apontada à ele.

Um cavalheiro cede sempre o seu lugar à uma senhora, à um idoso ou criança.

No dia 15 de Abril de 1912 deu-se o trágico acidente do Titanic, nesse dia muitos dos homens presentes no navio garantiram que primeiro embarcassem nos barcos salva-vidas, as mulheres, crianças e velhos, e há o relato do Sr. Walter D. Douglas que respondeu aos insistentes pedidos da sua mulher para que ele juntasse-se à ela no barco salva-vidas dizendo: “Não, eu tenho de ser um cavalheiro”.

Quantos cavalheiros deram a vida deles pelas mulheres sem exitarem nesse dia!? E todos nós sabemos que naquela tábua o Leonardo DiCaprio também cabia, mas o acto cavalheiro era garantir que a Katy estivesse perfeitamente à vontade.

O homem sempre amou a sua mãe, as suas tias, as suas irmãs e sempre respeitou as suas sobrinhas e primas, portanto o pensar que antes da ascendência das mulheres tudo era um pesadelo para estas, é errado. O homem sempre valorizou a mulher pois ela é o seu maior tesouro.

Às mulheres eu pergunto, será que valeu a pena acabar com a era dos cavalheiros?

26/06/2015

A Ausência da Palavra Foder no Dicionário

Hoje aborrecido e sem nada para fazer decidi abrir o meu volumoso dicionário e porque não ver qual o significado que eles tinham dada a palavra foder e rir enquanto leio. Qual não foi o meu espanto quando não encontrei em nenhum lugar essa palavra e os seus derivados.

Como poderia o livro que celebra as palavras não celebrar a mais multifacetada palavra da língua portuguesa? foder é um calão; dir-me-ão os puristas. Não, merda é um calão, cabrão é um calão, foder encerra uma revolução linguística em si mesmo.

Descriminar a palavra foder por ela estar ligada ao sexo não passa disso, de descriminação. foder vai muito mais além de uma simples foda. Fode-me o pensar que a comunidade intelectual não reconhece a palavra mais interessante do nosso léxico.

Tiremos por um momento das nossas cabeças que a palavra foder significa manter relações sexuais. Faça esse esforço e continue comigo.

O que fica?

Um universo.

Eis o que eu teria colocado no dicionário.

Foder. v., estragar, danificar, destruir. Ex: Foderam-me o carro, fodeu-me o ano, fodeu-me o dia. Não me fodas isso.

Foda-se, interjeição que exprime surpresa ou admiração.

Foda, algo fodido. Mas usado nesta forma no Brasil.

Fodido. subst., admirável, fantástico, cool, maneiro, show de bola. Um iphone é um telefone fodido.

Fodido. adjct, bom, competente, apto, maravilhoso.  Entre o Méssi e o Cristiano Ronaldo, quem é mais fodido?

Fodido. pp, estragado destruído. Está tudo fodido.

Um jovem acabrunhado que nunca diz que algo é fodido, coitado, nunca realmente admirou nada na vida dele, nunca realmente reconheceu o talento de um outro homem ou mulher. Nunca provará do momentâneo alívio que sentimos quando reconhecemos a nossa situação e dizemos de boca cheia:

– Estou Fodido.

Nunca encontrará numa única palavra a força para seguir em frente como o fazemos quando admitimos:

– Estes gajos foderam-me tudo.

A própria palavra cura, ameniza, liberta, enfurece, exalta-nos e sozinha expressa tudo que nos vai na alma, é algo realmente Fodido.

Quanto à mim eu tenho uma relação muito especial com o foda-se. Meu primeiro palavrão. Aprendi-o com um amigo, por aí nos meus 12 anos, o Magas, ele soltava um foda-se a todo momento e a respeito de tudo e eu comecei a imitá-lo. Apartir desse momento comecei a andar na rua de forma diferente, eu gostava mais de mim mesmo, foi uma sensação inesquecível de prazer, sim eu nem sonhava com o sexo nesses tempos, ainda nem tinha descoberto a punheta, e o foda-se era maior que tudo isso, era um estilo de vida, era fazer parte dos meninos maneiros como o Magas, que faziam o que queriam, e que diziam um foda-se como se libertassem um povo da opressão, como se fossem deuses. O foda-se é uma palavra muito emocional para mim, está carregado de emoções daquele tempo, de momentos passados na Vila Gorjão.

21/05/2015

O Coiso

Sabes amiga eu e o meu marido fizemos o coiso, mas não me satisfez por causa do tamanho então fiz o coiso com o meu vizinho que tem um coiso melhor, não diria enorme mas de certeza maior e eu sempre vejo ou oiço ele e a mulher a desfrutarem, não há como não cobiçar. O meu coiso primeiro ficou um pouco maltratado, mas depois quando ele empenhou-se bem naquilo, ficou um mimo. Eu claro estava exausta mas ao mesmo tempo satisfeita, claro que não contei ao meu marido, não queria que ele ficasse com ciúmes.

Eu sempre gostei do coiso, desde criança sempre fiz o coiso na minha casa, meus pais não me deixavam mas eu fazia no meu quarto quando eles não estavam. Quando eles chegassem escondia-lhes atrás da janela.

Quando conheci o meu marido ele tinha o maior coiso que eu já vi, foi assim que ele me conquistou. Mas depois ele desleixou-se, deixou de cuidar e nem sequer cortava a relvinha, aquilo parecia uma selva. Desculpa amiga mas eu sempre gostei de um coiso bem mantido.

Sabes qual é o nome que o meu vizinho dá ao coiso dele? Paraíso. Amiga diz-me se não haverias de querer estar sempre lá. As vezes acordo e vejo-lhe de mangueira em riste descamisado no quintal dele. Sabes qual foi a última vez que vi meu marido de mangueira em riste? Na nossa lua de mel 3 anos atrás.

Amiga eu preciso de um bom coiso senão não me sinto viva, eu não sei porquê a maioria das pessoas não são como eu, não conseguem perceber que é natural, que é parte de nós, do nosso mundo, Deus é que fez assim, é a sua maior criação.

Se tu visses o coiso do marido da Giselle, aquele sim é impressionante, e sabes que eu só vi uma 5 vezes e ele só me deixou brincar com ele uma vez.

– Amiga Afinal do que estás a falar.

De jardinagem amiga, pensaste que fosse o quê?

04/07/2015

Punir uma Criança nos Tempos de Hoje

Quando eu era criança não importava o que tu fazias, foste pego fazendo asneira e levavas porrada ali mesmo na hora, a quantidade de porrada e o meio utilizado para a aplicar dependia do tamanho da asneira que fizeste. Esse era o sistema de punição.

Nos dias de hoje o castigo é aplicado num sistema praticamente judicial e democrático.

Primeiro tem a polícia doméstica que pode ser o pai ou a mãe, que tem de encontrar a criança em flagrante delito ou pelo menos construir um caso contra a criança reunindo provas, testemunhas e por vezes fotos ou videos do crime cometido.

Depois disto o caso é levado ao tribunal doméstico onde a mãe e o pai depois de discutirem o crime e verem que ele tem fundamento para passar pelo julgamento, emitem um mandado de busca e captura à criança que é muitas vezes executado pelo irmão ou irmã da criança.

Geralmente na sala a criança senta num canto enquanto os pais noutra sala ou na cozinha discutem qual é o melhor castigo a aplicar. A mãe primeiro propõe uma semana sem TV, internet e telefone, o pai nem consegue ouvir mais nada depois de uma semana, ele contra-argumenta que é muito, o pobre filho dele uma semana sem desenhos na TV, que inferno, ele não pode deixar de recordar-se da sua infância e da companhia que Tom & Jerry lhe fizeram e da imensa alegria que lhe trouxeram; como ele poderia negar isso ao seu filho, ao seu próprio filho. Oh e os videos engraçados do Youtube como poderia o pai lhe tirar isso. Cheio de vergonha ele nem consegue olhar para a mulher e expor-lhe essas preocupações. Mas nem precisa porque ela está a pensar exatamente na mesma coisa, coitado do filho dela.

-Vamos reduzir para três dias. – Diz o pai quase implorando.

-Não, 2 dias. – Retrucou a mãe com um aperto no peito.

Os dois olham-se e abraçam-se.

-Porquê ele fez isso connosco!! – Lamenta o pai.

-Porquê nos obrigar a pôr-lhe de castigo!!! – Secundava a mãe.

E o pai chora.

A mãe já não podendo conter-se:

-Meu filhinho coitado. Como os nossos pais lidavam com isto!

E os dois choravam em sincronia.

Neste momento uma ideia lhes ocorre, ligar para a mãe dele, a avó da criança.

Esta recomenda o único remédio que existe, porrada.

Os dois felizes desligam o telefone. O pai diz “olha querida eu vou dar uma volta”, e lhe agarrando as mãos com força acrescentou: “tu faz o que tiveres que fazer, dá-lhe uma sovinha, mas não me conta nada”.

Ela recusa e diz-lhe que ela é que vai dar a volta e ele como homem da casa, é que deve dar a sova.

De volta aos choros, nenhum deles consegue levantar a mão para o filho tão querido.

Voltam a ligar para a avó a pedir que ela venha dar a sova.

A avó chega, os dois já estão preparados para irem dar a tal volta. Não trocam nenhuma palavra e ao saírem ainda olham uma vez para trás, dão se a mão e vão embora.

A avó que tinha dado muitas sovas ao pai, entrou na sala confiante mas a idade lhe amoleceu o coração e bastou colocar os olhos na carinho de anjo do seu neto para perder toda a coragem. Deu lhe um sermão de dois minutos e ficou a jogar damas no tablet com ele.

Quando ouviu o carro do seu filho a chegar, machucou um pouco a gola da criança e colocou conta-gotas no olho dela para fazer surgirem lágrimas.

Os pais abriram a porta, viram a cara da criança cheia de lágrimas, o aspecto dela e foram logo a correr meter-se no quarto.

Aquele foi o pior dia da vida deles.

Stélio Inácio

08/04/2018

O Tipo Desgraçado

Eu conheço um tipo que eh pá, o gajo me deixa muito preocupado. Mas muito preocupado mesmo. As coisas que ele fala, desculpá-la tu precisas mesmo ver.

O outro dia estavamos a falar do João que anda doente e ele diz: “Este tipo parece a dama que lhe comprei iphone 8, quando eu quero ficar com ela, está sempre com dores de cabeça”. Numa outra ocasião estava a falar da situação financeira dele: “eu estou tão individado que tenho dividas ocultas, dividas que eu fiz e não me lembro”. Depois falando de um tipo detestável: “Aquele tipo é um zero, parece minha conta bancária um dia depois de entrar o salário”. Na cozinha lá do job um dos colegas tentava utilizar a torneira estragada e ele entra e em frente de toda a gente: “essa torneira é como os meus problemas urinários, sai, pára, sai, pára”. A semana passada em que fomos obrigados a sair tarde: “fazer horas extras aqui no job lembra-me ontem que emprestei mola ao meu irmão mais novo, eu sei que ele não vai pagar, mas lá no fundo tenho uma esperança.” Há alguns meses sobre um cliente que encomendou-nos um trabalho e não pagou: “o tipo daquela empresa deve ser parente da minha ex mulher, o gajo convenceu-nos com falas mansas apesar do que se falava sobre ele na praça, quando menos esperavamos apunhalou-nos pelas costas, depois de termos posto tantos milhões nas propriedades dele. Mas pensando bem ele não é como minha ex-mulher, pelo menos não fugiu com um Nigeriano deixando-nos com 3 filhos para criar.” Outro dia falando da internet lá do job: “essa internet parece meu coiso, leva muito tempo a ficar on, e quando finalmente levanta o interesse já se foi.” Reflectindo sobre as muitas ocorrências que o carro dele já teve: “meu carro parece minha vida, lutei muito por ele, mas chegou um larápio levou os faróis, roubaram-me toda a mobília em casa, depois de um mês o mesmo larápio roubou-me os espelhos, em casa os mesmos ladrões vieram e roubaram o congelador que não conseguiram carregar da primeira vez, e por fim sofri um grave acidente rodoviário, em casa o vizinho de lado que está a construir fez com que uma das minhas paredes fosse abaixo”. Mas a maxima foi hoje quando ele viu um mendigo todo sujo e virando-se para mim iniciou: “esse mendigo parece os meus…” Eu logo lhe interrompi e disse desculpa, desculpa lá nós somos amigos e colegas sim, mas eu nunca mais quero saber sobre a tua vida.

Puuxas, esse tipo anda por aí abandonado por Deus. Não sou eu que o vou aturar!

Stélio Inácio

11/01/2018

Lições de Casa

Levar porrada em casa para mim sempre foi uma oportunidade de aprender por isso talvez a minha mãe sempre me avisava:

“Experimenta fazer isso, vou te dar uma lição!”

Eu sabia exatamente porque estava a levar, e cada sílaba do meu erro fazia-se sentir nas minhas nádegas:

“Quem te man-dou fi-car na rua a-té e-ssa ho-ra. Es-ta-va-mos preo-cu-pa-dos.”

Com pausas, pontuanção e tudo. E tinha sempre a última sílaba:

“Ntla”.

Era difícil para mim voltar a cometer o mesmo erro, é que eu lembrava exatamente de tudo que eu não devia fazer:

“Quem te man-dou le-var a-que-las moe-das en-ci-ma da me-sa.”

Ou:

“Nun-ca ma’s que-ro te ver a brin-car na-que-le sí-tio”

Eu não tinha escolha senão aprender.

As melhores lições eram as dos exemplos: ver os meus irmãos a levarem uma, as vezes até denunciados por mim:

“Quem te en-si-nou a di-zer e-ssas pa-la-vras”

E o choro que seguia depois era tão engraçado e eu ficava a conter o meu riso sobre a desgraça dos meus irmãos.

Mas a mais temível lição acontecia no fim do ano. E eu e os meus irmãos tínhamos muito medo dessa porque a porrada por ter chumbado na escola era das mais terríveis, nós acreditávamos até que algumas crianças não sobreviviam ou ficavam de coma em casa. Portanto ler as pautas na escola para saber se passou ou chumbou era uma questão de vida ou morte. Na verdade eu estudava todo o ano e esforçava-me com medo dessa grande porrada do final do ano lectivo. Se alguém soubesse que chumbou, nunca ía directo para casa, algumas crianças até contemplavam fugir de casa. Talvez alguns marginais na rua, tenham chumbado duas vezes na quarta classe.

Dizem que os pais de hoje não batem nos filhos mas eu não acho que é porque eles são fracos ou porque são melhores pessoas, eu acho que eles estão traumatizados com toda porrada que levaram. Eu tenho certeza que os nossos filhos vão bater nos filhos deles porque eles não vão saber quanto dói. Isto sempre salta uma geração.

16/06/2015

FIM

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